A patrimonialização do acarajé através da Lei carioca nº 10.157\23 que torna a produção e comercialização do bolinho mais famoso da cidade de Salvador patrimônio de valor histórico e cultural do Estado do Rio de Janeiro de autoria das deputadas do PSOL Renata Souza e Dani Monteiro e Átila Nunes do MDB publicada no Diário Oficial do dia 25 de outubro, provocou uma verdadeira revolta nas redes sociais, dividindo opiniões de baianos e cariocas que reverberaram para outros estados do Brasil. Dentre as muitas afirmações, a mais contundente dizia que “o acarajé é da Bahia e que o Rio de Janeiro não podia se apropriar de tal iguaria, assim como havia realizado com outros símbolos baianos como o samba e a feijoada. Entendendo a importância de pensar os símbolos identitários a partir de algo mais amplo, como os diferentes caminhos que os diversos grupos africanos percorreram no Brasil e se afirmaram como tal a partir de contextos históricos diferenciados, a pesquisa visa fazer um levantamento de ocorrências para a palavra “acarajé” no banco de dados da Biblioteca Nacional em periódicos produzidos na cidade do Rio de Janeiro. Trata-se de uma pesquisa documental que irá realizar cruzamentos entre as informações disponíveis nos jornais a partir do século XVIII até o século XX e autores como viajantes, cronistas e historiadores que deram notícias sobre este bolinho de feijão frito no azeite de dendê de origem africana na cidade do Rio de Janeiro. Espera-se que a pesquisa nos coloque em contato com notícias de vendas de comidas nas ruas da cidade do Rio de Janeiro no século XVIII e sobretudo em meados do século XIX a partir da chegada de africanos e africanas oriundos do Leste e Oeste da Nigéria vindos de Salvador e da região Nordeste a partir de 1822, mas também demonstre conexão entre a vida das negras minas, chamadas “baianas”, do Rio de Janeiro e as da cidade de Salvador. Acertadamente, estas e suas descendentes experimentaram situações semelhantes como a exposição a jogos políticos, posturas, decretos e até mesmo perseguição, ora através da Secretaria de Segurança Pública, ora pela Vigilância Sanitária, até serem transformadas num produto turístico, a exemplo das baianas da cidade de Salvador.
Habilitação discente: Estudantes de Nutrição e Gastronomia
Vilson Caetano de Sousa Júnior