Alguns autores já demonstraram que o compadrio e o apadrinhamento, seja ele de africanos adultos recém-chegados, ou de descendentes nascidos no Novo Mundo instituído através do sacramento do batismo funcionaram como um dos primeiros e em alguns casos, principais laços de solidariedade que africanos escravizados lançaram mão a fim de manter coesas algumas tradições. Além de ser uma forma de integração social instituída desde o início nas sociedades católicas, o sacramento do batismo possibilitava a afirmação de vínculos socialmente reconhecidos através da constituição de um parentesco ritual e de relações que lhes transcendiam. O batismo católico era a maneira de ingresso no mundo cristão e ao mesmo tempo na sociedade escravista. Desta maneira, os livros de assentos se tornaram também locais de registro da fortuna de alguns senhores e em alguns casos, único testemunho de propriedade. O batismo era imprescindível. O batismo “sob condição” era mais recomendado do que viver sob a incerteza da administração de tal sacramento. Foi o caso de Maria adulta, de nação Cabinda que teve de receber o sacramento na igreja do Pilar por “não se saber com certeza ter sido batizada na sua terra e não se achar marca costumada.” Do lado de cá do Atlântico, Maria foi apadrinhada por Francisco Almeida e Nossa Senhora. Analisando os assentos de batismo é comum encontrarmos Nossa Senhora, nas suas diversas invocações como madrinha. Para isso, a sua coroa era tocada por uma pessoa na cabeça do batizando. Isso era registrado no Livro de Assentos de Batismo através das fórmulas: “e foi posta a coroa de Nossa Senhora” e “e pôs a coroa de Nossa Senhora.” No ano de 1896, o crioulo Zacarias Barbosa Porto adentrou à Matriz da Sé acompanhado da africana Maria Geralda e apadrinhou o seu filho Severiano aos três anos de idade. Severiano Santana Porto tornou-se um dos precursores da nação de candomblé ijexá no Brasil e segundo a tradição oral, teria chegado à Península de Itapagipe junto com parentes que haviam se deslocado do centro da cidade de Salvador a partir de finais do século XIX. A comunidade fundada por Severiano de Logun Ede guarda em sua memória a informação de que ela teria sido iniciada com a ajuda de uma pessoa que era consagrada ao “o santo de Canudos,” que nesta comunidade, nada mais é do que o Orixá Oxalá, ancestral da criação segundo os povos iorubás. Em trabalho anterior já supomos que uma das possibilidades é que o referido orixá, pode ter pertencido a Zacarias Barbosa Porto, padrinho de Severiano que teria ingressado ainda criança no Arsenal de Mar e Guerra, fato que não conseguimos comprovar porque ainda não localizamos a sua carreira militar. Tentando entender as relações entre africanos, seus descendentes e possivelmente grupos chegados de regiões designadas Costa da Mina, a presente pesquisa visa fazer um levantamento em livros eclesiásticos das Freguesias da Sé, do Santíssimo Sacramento do Pilar, Santana, Santo Antônio Além do Carmo e Penha entre os anos de 1766 a 1885, A escolha do período se justifica pelo nascimento e morte de alguns de nossos personagens. A pesquisa utilizará a metodologia nominativa que consiste em construir uma árvore genealógica a partir de ligações nominais dos personagens encontrados nos Livros Eclesiásticos. Os dados encontrados nos documentos serão cruzados com outras informações disponíveis no Arquivo do Estado da Bahia e no Arquivo da Santa Casa de Misericórdia.
Habilitação discente: Estudantes de Nutrição e Gastronomia
Vilson Caetano de Sousa Júnior